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    mar inatingível

      PSV jun 2022   Minha casa não fica ao pé do mar. Da janela diviso a poderosa montanha, a névoa, os pássaros ruidosos, o tímido cão,  e estremeço pela ausência do fluido mar. No entanto, o que está longe me sustenta. O desejo remoto, a veleidade insustentável, o verso nunca traçado, o pensamento exilado, o som  subterrâneo. A nostalgia do mar inatingível. O essencial não fica ao pé de mim. Também se vive do que não se tem.     Neatingebla maro   Mia hejmo ne staras apud la maro. Tra la fenestro mi vidas la potencan montaron, nebulon, bruemajn birdojn, timeman hundon, kaj mi ektremas pro foresto de la fluida…

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    o trato

       PSV - jun 2022      A guerra entre Rússia e Ucrânia não é assim uma coisa totalmente insensata. Vê-se em meio à selvageria algum sistema, uma certa organização. Há por exemplo a “regra dos 50 por 50”. Os russos entregam 50 corpos de soldados ucranianos em troca de outros 50 russos. Parece justo.  Compõe-se uma lista cuidadosa, que cada lado pode conferir, para que o trato funcione com confiabilidade. Tudo bem documentado, para que não haja fraude. Finda a troca, prosseguem as bombas, para que se produzam mais corpos, sem os quais não pode haver trato.     Quanto aos vivos, terão sua vez de serem promovidos a mortos.     Quanto…

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    o que é que houve no céu?

       PSV - maio 2022      — O que é que houve no céu?     por que no céu tanta luz?     — Se você não percebeu,     não é o Sol que a produz,       ela vem de peito alado     que um outro peito aninhou,     e do carinho somado     muita luz reverberou...         — Kio nova en ĉielo?     kial en ĝi tia brilo?     — Atentu, ke tia belo     ne de Suno estas filo,       sed de brusto de birdeto,     kiu parulon ekamis     kaj per silenta dueto     la firmamenton ornamis...

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    catarata

       PSV jun 2022   Velha, miúda e encanecida. De uns anos para cá, também os olhos encaneceram, e uma névoa pálida foi tomando conta das coisas. Tornou-se o mundo um grande véu leitoso, onde só havia sons. Já não podia andar, já não sabia procurar comida e água, não via rostos, não via paisagens.  O jeito foi refugiar-se no passado, nas antigas imagens de alegria e de pranto, de gozo e de decepção, de prazer e de dor. Esquecidos desejos voltaram, impossíveis e fantasiosos; voltava à infância pobre, à ingênua,  modesta mocidade. Passado e presente se mesclavam atrás da branca nuvem nos olhos.   Afinal, chegou o dia da graça. Quando…

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